domingo, 25 de janeiro de 2009

Hail, Hail

Direto do 'túnel do tempo'...
Hail, Hail

Eu implico com estatísticas. Eu sei que elas devem servir para alguma coisa. Mas em quase tudo que elas se metem, ninguém mais consegue conversar. Elas falam alto demais e são grosseiras.

Veja-se o futebol, por exemplo. Não há mais possibilidade de se acompanhar comentários nos intervalos e as análises do final do jogo. Fica aquela chatice de que o time A deu 598 chutes a gol, teve 79% da posse de bola, desarmou o adversário 3.839 vezes e teve 1.345 escanteios a seu favor. Mas perdeu de 1 x 0 pro time B que só deu 3 chutes a gol e mais nada. O velho quem não faz, leva, dito em míseros três segundos já dizia muito mais e melhor do que todas as planilhas desses supostos "experts" em futebol. Não à toa, no chatíssimo campeonato por pontos corridos essas bestas humanas fiquem achando lindo a porcentagem de pontos do campeão, etc. e tal. O futebol não deveria ser chato assim.

E isto é só um exemplo. Em quase tudo as estatísticas se metem para fazer confusão. Na Veja da semana passada, a revista apresenta um economista que "comprovou" por uma batelada de dados, que nos estados americanos em que legalizou-se o aborto, o índice de criminalidade é menor do que nos estados em que o proibem. Brilhante comprovação. Eu não preciso ter uma batelada de dados para afirmar com toda segurança que se legalizarmos os homicídios e os roubos, os índices de criminalidade serão ínfimos. Uma maravilha, não? Há quem adore viver neste mundo de faz-de-conta.

Mas ele vai mais longe. Munido de todos os dados estatísticos possíveis, ele comprova que uma criança indesejada que viva numa família desestruturada, a probabilidade dela vir a ser uma criminosa é muito maior do que numa família estruturada e em que ela foi desejada. Ou seja, melhor se ela tivesse sido abortada. Hitler pensava que se matássemos todos os judeus, também teríamos um mundo melhor.

Só mais um exemplo e eu juro que paro. Nesta sanha imbecil pelo controle de armamentos neste país, houve uma profusão de dados estatísticos que "comprovam" por A mais B a necessidade de proibi-las. Até agora ninguém me respondeu de que forma esses dados são confiáveis se aquele que, portando uma arma de modo legal, ao evitar um crime contra si ou terceiros não registra queixa ou avisa o IBGE?

Eu sou exemplo vivo disto. Saindo de um festa na casa de um colega, acompanhado de mais uns cinco amigos, parou um fuscão azul com quatro sujeitos mais do que mal encarados e vieram caminhando em nossa direção. Um dos meus amigos que possuía arma, na mesma hora a sacou e apontou para os sujeitos, que sem dizerem absolutamente nada deram meia volta e foram embora. Quantas vezes isto já aconteceu? Não se sabe porque não há estatística alguma. Portanto, a estatística apresentada não pode ser levada a sério, mas somente como mais um dado a ser analisado num país em que a polícia não consegue dar segurança à população e o crime organizado comanda mais da metade das grandes cidades do país.

Naquela reportagem da Veja, eles informam que o tal cientista recebeu um importante prêmio por seus "estudos". E a revista dá mais um: o do bom senso. É uma pena realmente que me tenham tirado o direito de portar armas. Ainda bem que logo vão me liberar para matar criancinhas nas barrigas das mães. Tudo de muito bom senso.

Publicado em 25 de janeiro de 2004, às 17h40, por Chico, no Blog Something Stupid

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