quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Por que mentimos?

Mentir é natural e faz bem, diz o filósofo David Livingstone Smith
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É simples deste jeito: mentir é tão natural quanto respirar, e promove o bem-estar psicológico. Quem só fala a verdade corre o risco de ser doente mental. Essas afirmações – que não são mentira – vêm do doutor David Livingstone Smith, professor de Filosofia, diretor e fundador do Instituto de Ciência do Conhecimento e Psicologia Evolucionária da Universidade da Nova Inglaterra. Ele corre o assunto nas 200 páginas do livro Por que Mentimos – Os Fundamentos Biológicos e Psicológicos da Mentira (Campus), em excelente tradução para o português. O autor é especializado na estranha disciplina Engano e Auto-Engano, que estuda a capacidade de as pessoas iludirem a si próprias de forma inconsciente. Para ele, “as mentiras estão tão entranhadas em nossa existência que não dá sequer para distingui-las das verdades”. E completa: “Fazemos como os sapos e as lagartixas que se mimetizam e, com isso, garantem a sobrevivência da espécie”. Ele dá exemplos de mentiras para todos os gostos, das rotineiras às culturais. Vão desde o mito de Adão e Eva, Papai Noel, canções de ninar com cucas que pegam criancinhas, “cola” em provas, seios siliconados (parte do grupo “ilusionismo visual”) até o cavalo de Tróia e as guerras em geral.
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A questão não é moral, mas biológica. Há correlação entre a teoria de Darwin e a psicologia evolutiva que Smith representa. Interromper o fluxo de mentira é como nadar na contramão de um tsunami. O engano, providencial eufemismo, é crucial para o relacionamento: pais e filhos, maridos e esposas, empregados e empregadores, profissionais liberais e clientes, governos e cidadãos. Aos publicitários, Smith manda recado direto: “É difícil imaginar a propaganda sem mentira. Quem quer romper a resistência a vendas precisa ser bom manipulador – ou seja, bom mentiroso”. Estudo de outro psicólogo citado no livro, Robert Feldman, mostra em dez minutos de conversa normal surgem três mentiras. No entanto, apenas uma pessoa em cada mil consegue percebê-las. Esse será pra o autor o próximo estágio da evolução humana.
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Não pense que é um livro de auto-ajuda. Esta mais para o terreno da Ciência. Recebeu boa cobertura nos Estados Unidos, em geral da imprensa especializada ou universitária. É pena. Se Smith tivesse realizado pesquisas de campo no Brasil recente, seria bem mais popular e geraria pelo menos três benefícios. O primeiro, servir à Ciência, ávida por experiências reais atuais que comprovem teses abstratas. O segundo, satisfazer o leitor: em vez de usar exemplos requentados como o do presidente Clinton e a estagiária Mônica Lewinsky, o cientista disporia de um rico leque de fatos, principalmente os provenientes de Brasília. O terceiro: prestaria um serviço valioso aos mentirosos da moda, que contariam com subsídios científicos para justificar suas atitudes.
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